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“O amor, em um país de ateus, faria adorar a Divindade”.
Voltaire (1694-1778)

sábado, 26 de junho de 2010

Luís Figueiredo, uma figura encantadora.


Seu Luís Figueiredo – O homem e seu rastro
por José Márcio Castro Alves

A morte é o corolário da vida, assim me disse um dia o seu Luís Figueiredo, em metáfora de caboclo. Refiro-me ao seu Luís da dona Maria Helena, o pai da Lúcia, da Imaculada, da Ana e da Beth, as suas quatro filhas que lhe deram quatro famílias e genros trazidos na conta de novos filhos, como também uma ninhada de netos.

O nosso querido seu Luís, o avô da Priscila e do Thiago, do Fernando e do Guilherme, da Rafaela e do Fábio, do caçulinha Rodrigo.
Mais que um filho, um irmão, um pai, um tio, um sogro, um cunhado ou um avô, ele era um ícone, um pêndulo e um amigo.
Um mineiro de estirpe que brotou da fina flor da cepa sertaneja.
Prudente e cauteloso, ancião e menino, foi criado na cadência do monjolo e na sova do polvilho da velha São Thomás de Aquino. Mas era também um paulista e um francano adotivo, desses que vibram altivamente e de coração aberto por ter orgulho da sua terra, nessa cruza precisa entre a emoção e a razão.
O seu Luís das festas, da praia e do rancho, da roça e do dia a dia. Num almoço de domingo era a própria imagem da alegria de viver. Onde quer que chegasse, era sempre bem vindo. Um homem no sinônimo integral do termo. Um líder nato, sem meias palavras, sem meios sorrisos. Um caipira adorável. Sempre inteiro. Discreto, como todo mineiro e enérgico como todo paulista. Era como um João-de-Barro. Deixava sua pista. Um brasileiro da cabeça aos pés, um bandeirante, formador de gentes e gerenciador da família. Um baluarte e um prumo, um esteio e um norte.
Um homem de opinião e um filósofo, um matuto e um pensador matreiro que adorava brincar de sabedoria.
Ao contemplar o firmamento, cruzava os braços feito um Jeca e conjecturava possibilidades sobre a nossa insignificância. Sempre alegre, aberto aos jovens, compreensivo e consolador. Um homem de abraço gostoso e sorriso franco, que adorava a quentura de uma confidência e o calor de uma boa prosa.
Seu Luís, o eterno par da dona Maria Helena, mãe e mestra nos quitutes e nas prendas, sempre com ele na retaguarda. E na vanguarda, quando encabeçava a rédea e conduzia naturalmente a sua aldeia entre temporais e bonanças. Com ele, era sempre tempo bom, tempo de plantar e colher.
Amava os prazeres da roça, o aroma da chuva e o cheiro do curral, o doce dos frutos e o berro das crias.
Certa feita, escrevi um artigo sobre as fases da lua e a sua influência na agricultura. Foi o seu Luís quem me deu a dica:
--- ''O que nasce pra cima da terra se planta na minguante. O que nasce debaixo da terra, planta-se na crescente''.
Sabia de tudo aquele moço velho, aquele velho moço!
E quantas vezes o Brasil não viu, na televisão, à frente de uma aventura campestre, o seu Luís descascando o milho e a espiar, à moda mineira, de banda, a criançada a se lambuzar com a pamonha ainda quentinha, saída há pouco do tacho? Ah, seu Luís, da uva foste a videira e o cacho.



Um homem que amava o belo e que gostava de música, dos versos, das coisas e dos causos, das serestas e dos inesquecíveis assustados.
E quantos deles não compartilhamos? Comedido e naturalmente elegante, marcava presença como uma referência sensata e oportuna, taliquá um bacurau.
Não precisava falar muito pois era daqueles cujo olhar bastava e o canto se ouvia.
Em requisito, jamais desperdiçou a chance de dar aquele parecer conciso e claro, quase sempre entoado como um veredicto, feito um juiz ponderando entre o acerto e o erro, o alegre e o triste, mas nunca com o dedo em riste.
Quem não se lembra das suas gargalhadas, sempre em arremate a uma boa história ou uma piada da terra? Era um riso jorrado na mais cristalina de todas as bicas, brotado na sabedoria e na naturalidade dos que trazem no bornal do intelecto um rosário todo encorpado de janeiros em penca e primaveras em demasia. Delas, garimpou setenta e cinco, o felizardo.
Sempre foi um guerreiro e um pacificador. E lutou bravamente contra a doença, mas sem faltar com aquele seu bom humor tão peculiar e aquela pitada de galhardia, um cacoeti que trazia no fundinho da algibeira.
Submeteu-se a elas, as tais cirurgias, para prolongar mais um pouco a linha de seu tempo.
Queria ficar mais, pois sabia que era necessário para a nossa alegria.
Mas teve também o privilégio de virar o século e o milênio ao lado do seu clã e dos seus muitos amigos, junto à família. Foi surpreendido, na passagem para 2001, tomando um copinho ou outro de cerveja, feliz da vida, na mesma traquinagem de menino extrapolando a medicina.
Pressentia que não faria mais diferença um cigarrinho escondido no bolso, um golinho a mais, naquela festa que não podia perder nem adiar. Nunca adiou a vida.
A última semana foi ao lado da mulher, das filhas, dos netos e dos genros, na fazenda em São Thomás. Uma semana feliz, que dividiu generosamente com muitos.
Apesar dos queixumes e das dores que a madureza lhe devia, escrevia na areia os males que lhe afligiam e esculpia no mármore todo bem que recebia.
Amava a natureza e a arte de viver, por isso jamais vislumbrou abandonar esse espetáculo que é a vida. No fim, a partida. Rápida, decidida, consentida enfim.
Seu Luís Figueiredo, um doador de caráter, um homem que soube desvendar como poucos os segredos e os caminhos de uma vida gloriosa.
Desses que quando terminam a empreitada terrena, deixam cravado nitidamente, limpidamente, o rastro da generosidade e da bondade, entalhado com mão de mestre no mais puro cerne do nosso pensamento, para morrer jamais.
Seu Luís Figueiredo, um teimoso tão bondoso, tão dengoso e tão contente, que ainda teima em estar com a gente!
(visite o site especial para ver mais Luís Figueiredo e família)

José Márcio Castro Alves
Ribeirão Preto, 15 de Janeiro de 2001.

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2 comentários:

  1. Infelizmente não conhecí o "sô" Luiz pessoalmente, mas você e o Nico já me falaram dele: uma grande figura, como seu texto inspiradíssimo mostra tão bem.

    João Heitor
    23 de janeiro de 2010 10:07
    Anônimo disse...

    Olha zé, esse texto magnífico que tu escreveste na minha concepção é um quadro!.
    A gente consegue ver o Sô Luis e até mesmo ouví-lo.
    Esse texto está "pregado" lá no rancho, junto com algumas fotos até hoje.
    Muita saudade.
    Renato Castro Alves.
    Obs: O brasileiro, irmão dele faleceu no mesmo dia, só que em 2010!
    24 de janeiro de 2010 00:51

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  2. Você é um gênio tio. Abraços

    Guilherme Figueiredo Alves.

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